Segundo revelou o gestor de fundos Spencer Hakimian, em entrevista ao Jornal Nacional, o que ocorreu no mercado de câmbio brasileiro no dia 9 de julho de 2025 beira o inacreditável — mas infelizmente é real: entre 13h30 e 14h, pouco antes de o ex-presidente Donald Trump anunciar, às 16h17, tarifas comerciais de 50% sobre produtos brasileiros, grandes operadores compraram entre 3 a 4 bilhões de dólares no mercado futuro. O movimento foi rápido, discreto e extremamente fora do padrão.
O impacto foi imediato: o dólar saltou para R$ 5,60 logo após o anúncio, ultrapassando R$ 5,58 já nos minutos seguintes. Em uma operação especulativa de curtíssimo prazo, os mesmos agentes que compraram dólar antecipadamente venderam os contratos logo após o anúncio, com um spread de R$ 0,08 a R$ 0,12 por dólar, o que representa um lucro líquido estimado entre R$ 240 milhões e R$ 480 milhões em menos de três horas — valores dignos de um escândalo internacional.
Essa movimentação não foi fruto de sorte, nem de leitura técnica de cenário. Foi informação privilegiada. E isso, no Brasil, é crime. O art. 27-D da Lei 6.385/76 classifica como insider trading o uso de informação relevante e ainda não pública com o fim de obter vantagem financeira. A pena prevista é de reclusão de até 5 anos, além de multa.
Não estamos diante de um erro de mercado, mas de um indício grave de corrupção informacional: alguém obteve acesso antecipado à política comercial de um chefe de Estado estrangeiro e usou essa informação para obter lucro privado em cima de um dano coletivo — a desvalorização da moeda brasileira.
Hakimian também alertou que esse padrão já se repetiu antes, em casos envolvendo tarifas dos EUA contra outros países, como África do Sul, México e União Europeia. Mas agora, atinge diretamente o Brasil — em um momento de tensão diplomática e instabilidade interna.
É imprescindível que a CVM, o Banco Central e o Ministério Público Federal abram investigação urgente para identificar quem operou esses bilhões de reais, com quais vínculos, e com que base de informação. A possível combinação entre decisão política internacional e enriquecimento ilícito com dólar futuro representa um risco sistêmico para o país.
Lucro à custa da desvalorização do real e da soberania econômica brasileira não é mérito financeiro — é crime contra o mercado, contra o país e contra a legalidade.
O Brasil precisa reagir. Porque quando a moeda vira refém de interesses obscuros, não há liberdade, nem confiança que sobreviva.
Fernando Rocha é Procurador da República e Mestre em Direito Internacional.
Comentários (1)
Uma resposta para “As Chantagens de Trump e o insider trading. Por Fernando Rocha.”
Só bobo acredita em sorte ou acaso.