A esquerda cancela a direita, que cancela a esquerda, e ambos cancelam o centro. São empresas, reputações e vidas guilhotinadas por um gesto, uma ação, uma frase. Esse é o desdobramento natural da intolerância generalizada que habita as redes sociais, onde os algoritmos se alimentam da polarização. Eles lucram enquanto as cabeças rolam.
Nunca a intriga, a discórdia e a violência foram tão semeadas como em nossa geração — e a colheita se aproxima. Já vemos amizades se rompendo, familiares distantes e discussões sem fim nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp.
A mesma pessoa que louva a Deus com fervor diariamente esquece de seguir os passos de Jesus no exato momento em que entra no campo da política. É fé misturada com intolerância. Posso discordar de um gesto, de uma fala ou de uma postura, mas não desejo que o outro lado se acabe ou seja destruído.
Estamos andando para trás na história. Já se provou, repetidas vezes, que a intolerância é o ovo da serpente: cedo ou tarde, produz violência generalizada, que depois ninguém consegue controlar. Na Revolução Francesa, os jacobinos iniciaram a sanha da guilhotina e terminaram vendo seus próprios líderes debaixo da lâmina. A violência sempre volta.
O assunto da vez é o evento do SBT promovido por Fábio Faria e Patrícia Abravanel com a presença de Lula e Alexandre de Moraes. Todo mundo tem o direito de não gostar, de criticar, de ironizar à vontade. Mas existe necessidade de cancelamento? Particularmente, posso não gostar de um opositor ou adversário, mas não quero destruir ninguém. Quem tem muita sede de sangue termina, cedo ou tarde, bebendo o próprio.
Nelson Rodrigues tem uma frase que parece escrita para o nosso tempo: “Quando os amigos deixam de jantar com os amigos por causa da ideologia, é porque o país está maduro para a carnificina.”
Que possamos discordar, criticar, votar contra, fazer oposição firme — mas, diante da nossa dificuldade em amar o próximo como a si mesmo, que ao menos não o odiemos.
— Quando queremos levar os outros para a guilhotina, é porque já perdemos a nossa cabeça.
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