O Brasil invadido pela China ou EUA. Por Aragão

O complexo de vira-latas deixou de ser apenas um distúrbio emocional e virou a psique padrão de uma legião de brasileiros.
É assim que enxergo os que sonham com uma intervenção dos EUA ou da China no Brasil.
Quem viaja para o exterior sabe: muitas vezes somos tratados como cidadãos de segunda categoria. O preconceito existe, é real, e não precisa de muita experiência internacional para ser percebido. Inclusive, nossos soldados na Segunda Guerra eram servidos com a chamada refeição de “3ª classe”, diferente da comida destinada aos americanos e ingleses — um fato registrado por Campiani Maximiano em Barbudos, Sujos e Fatigados. Isso é passado, sim, mas não deixa de ser revelador.
E não foi só no front. Quem conhece a história sabe que, durante a guerra, os americanos “botavam boneco” por aqui: desrespeitavam mulheres acompanhadas, ridicularizavam brasileiros em bares e provocavam brigas nas boates da Ribeira.
— Se já existe preconceito entre nós mesmos, imagine vindo de fora.
O brasileiro do Sudeste ainda chama o nordestino de “Paraíba”. Agora imagine americanos ou chineses desembarcando por aqui e se deparando com nossas favelas, nossas ruas tomadas por mendigos, estradas esburacadas, saneamento precário, escolas públicas em frangalhos, um sistema de leis que não funciona.
A ficha só cairia quando víssemos nossa gente sendo presa por estrangeiros, submetida a regras impostas, vivendo humilhações inevitáveis em situações de ocupação. O arrependimento viria tarde demais — e numa época em que a intolerância global já está no auge.
O raciocínio é simples. Da mesma forma que nos encantamos com cidades desenvolvidas, o estrangeiro, ao pisar em nosso atraso, pode se sentir no direito de olhar com superioridade. E nós, brasileiros, seguiríamos tendo que engolir essa situação indefinidamente, porque o país ainda está longe do desenvolvimento que merecemos.
Nunca ví uma nação mover um dedo que não fosse por interesse econômico. Se fosse pela democracia ou pela justiça, ajudariam a Africa. Eis a verdade: ou celebramos e defendemos nossa independência todos os dias, ou reviveremos, na pele, o que os povos indígenas sentiram em 1500.
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