— Temos casos de adolescentes que urinam e evacuam na própria roupa para não interromper o jogo. Soa absurdo, mas é sintoma de uma sociedade que trocou o toque humano pelo toque na tela, afirmou o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas da USP.
Pegamos o celular mais de 200 vezes por dia. Tocamos nele, em média, 2.600 vezes. E já existem jovens que passam 55 horas ininterruptas conectados — sem comer, sem dormir, sem viver.
Segundo Nabuco, na vida digital, criamos versões melhoradas de nós mesmos — perfis, filtros, avatares — e recebemos em troca o reconhecimento que as vezes falta no mundo real.
Ali, ninguém enfrenta frustrações, nem críticas.
E ao encontrar conforto nessa realidade paralela, muitos já não querem voltar à vida real.
Mas existe uma conta a pagar.
Estamos mais informados — e menos sábios.
Mais conectados — e mais sozinhos.
Mais rápidos — e menos profundos.
— No Vale do Silício, a solução é fugir da conectividade.
As escolas mais disputadas entre executivos do Google, da Apple e da Meta são as Techless Schools: instituições onde o uso de tecnologia é proibido.
Ali, as crianças aprendem por meio de contato humano, arte e natureza.
E, em casa, os pais são orientados a não permitir o uso de telas até os oito anos de idade.
— Os filhos do quarto
Nabuco chama atenção para um novo grupo social: os “filhos do quarto”.
Jovens que vivem confinados, mergulhados em jogos e redes, com a vida reduzida a uma tela.
Sem experiências concretas, sem convivência, sem mundo real.
Eles não aprendem a lidar com frustrações, não desenvolvem autonomia e não constroem vínculos — porque o universo digital oferece gratificação imediata.
— A ferida invisível
A pesquisadora americana Sherry Turkle resume o dilema com uma frase precisa: “A tecnologia entra na vida de uma pessoa quando as relações humanas não ocupam o seu devido lugar.”
O vício digital prospera onde falta presença.
Lá onde o diálogo é substituído por notificações, o afeto por curtidas e o silêncio por rolagem infinita.
O desafio, não é demonizar a tecnologia, mas recolocar o humano no centro.
— Precisamos nos conectar mais à natureza, à familia e a Deus.
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