Não é Kiev, é Mãe Luiza.
Não é Donetsk, é Paço da Pátria.
Não é Mariupol, é Quintas, Felipe Camarão, Guarapes.
Nossa guerra de cada dia não aparece em rede nacional. Nem Putin, nem Zelensky querem nossa cidade, nosso estado — mas nós queremos. E o que vemos são ruas tomadas, escolas fechadas, famílias fugindo, bairros sitiados. Pessoas estão tombando, vítimas de uma violência atroz, perpetrada por duas grandes facções, Comando Vermelho e Sindicato do Crime, que disputam território, impõem regras e estabelecem o medo como método.
E uma população que, sem perceber, vai se acostumando à presença da guerra como se ela fosse apenas mais uma camada do cotidiano.
A diferença entre uma guerra internacional e a que se trava aqui é que lá há câmeras e cobertura ao vivo. Aqui, há silêncio. Um silêncio conveniente para quem governa, mas ensurdecedor para quem vive sob o medo. A taxa de homicídios cresceu 24%, e os casos envolvendo intervenção policial, 40%.
Enquanto o Brasil se indigna com os mísseis russos, crianças da zona Oeste de Natal crescem ouvindo o estalo dos fuzis como trilha sonora. Enquanto jornais narram, com detalhes, o avanço dos tanques em solo europeu, nossos becos, vielas e bairros inteiros já foram ocupados — só que sem repórteres, sem mapas, sem atenção.
O Estado já não consegue conter a onda de violência. Ela é regulada pelas próprias facções. Há locais em que se comete — ou se proíbe — crimes por ordem do tráfico. E o mais grave: enquanto nos acostumamos com essa realidade, a autoridade se inverte. Quem dita a lei não é mais a Constituição, mas o “salve” da comunidade.
Não se trata apenas de segurança pública. Trata-se de soberania. De dignidade. De cidadania.
É a democracia sendo fatiada, rua por rua, até que reste muito pouco dela nas áreas onde o Estado não pisa mais.
— Tá tudo dominado.
Foto: Jean Catuffe/Getty Images
Comentários (8)
8 respostas para “A Ucrânia é aqui: Como a guerra das facções explode a paz no RN. Por Aragão.”
Mais um texto cirúrgico, indo no cerne da questão.
Tudo isso embaixo do nosso nariz e começamos a achar normal. Precisamos fazer algo
E a propagando do Governo é que a criminalidade diminuiu e muito
A questão da segurança pública deveria ser uma das prioridades do governo. Entretanto, parece que andamos para trás.
Texto perfeito. Lamentável a situação que nosso estado se encontra.
Hoje o seu artigo merece um “EITA! PORRA”, assim mesmo em letras garrafais tamanha é a nossa indignação com o domínio das facções no Brasil. É inconcebível o que vem acontecendo, anualmente, na data de 27 de março. A população acuada aguardando a queima de fogos que anunciam, não a chegada de mais um ano novo, mas sim o quanto estamos dominados pelos bandidos.
👏👏👏👏👏👏
Já estamos tão acostumados com esse PODER das facções, que parece normal, onde nem cobramos mais.de nossos políticos. Toca da Raposa, Rocas e tantos outros não podemos passar em certas ruas sem acender a luz interna e desligar os faróis. Não é problema na polícia, mas nas políticas públicas, legisladas por nossos políticos.
Nossa realidade descrita c perfeição!