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O Homem Performático. Por Fernando Rocha.

Arthur Schopenhauer (1788-1860) acreditava que a verdadeira individualidade era uma dádiva rara. Para ele, a maioria das pessoas não passava de meros repetidores, encaixados em categorias previsíveis, reféns de hábitos triviais e pensamentos padronizados. Suas vontades não eram próprias, mas sim reflexos do coletivo, como se a vida fosse um grande palco onde todos atuam conforme o roteiro já escrito por outros. O que ele talvez não tenha previsto é que, mais de um século depois, essa tendência à repetição se tornaria ainda mais radical – não apenas uma característica natural do homem, mas uma exigência imposta pelo mundo digital e pela lógica produtivista da contemporaneidade.

Byung-Chul Han, em sua crítica à sociedade do desempenho, aponta como o homem moderno é forçado a ser não apenas produtivo, mas um produto em si. Se antes o capitalismo exigia corpos que trabalhavam exaustivamente, agora ele exige corpos que se exibam, que se vendam como marcas pessoais, que monetizem sua própria existência. O ser humano não precisa apenas ser eficiente, ele precisa parecer eficiente. Não basta viver, é necessário demonstrar que se vive – e bem. É a era do espetáculo total.

As redes sociais, com suas câmeras sempre ligadas, transformaram o cotidiano em um reality show sem roteiro, mas com regras invisíveis e rígidas. O sorriso precisa ser perfeito, os dentes brancos como os dos influenciadores, a pele polida, os ângulos estudados. Até mesmo a tristeza precisa ser performada de maneira esteticamente aceitável. Não basta sofrer, é necessário sofrer de forma instagramável. A espontaneidade deu lugar à coreografia ensaiada; a autenticidade cedeu espaço à simulação de autenticidade. Não se trata mais de ser, mas de parecer ser. E, para isso, há um manual implícito: os mesmos filtros, as mesmas legendas motivacionais, os mesmos trejeitos nas danças virais.

A vida real foi substituída por um teatro digital onde todos desempenham papéis que não criaram, mas que precisam interpretar para serem aceitos. A estética dos corpos agora é forjada em clínicas de harmonização facial, criando rostos uniformes, bocas idênticas, expressões esculpidas para caberem nos moldes de um ideal que sequer foi escolhido conscientemente. O mundo digital se tornou a verdadeira realidade, e a vida offline, uma mera preparação para ele.

O que resta do humano quando ele se transforma em um avatar de si mesmo? Quando cada momento é vivido com a consciência de que pode ser filmado, editado, analisado, curtido ou rejeitado? Quando cada emoção precisa ser modulada para caber na expectativa do público invisível que habita o outro lado da tela? O homem performático deixou de ser sujeito para se tornar personagem. Não mais um ser único, mas um fragmento repetido, um eco incessante daquilo que já foi visto antes.

Talvez Schopenhauer estivesse certo ao dizer que poucos realmente possuem individualidade. Mas o que ele não poderia imaginar é que, no futuro, essa falta de singularidade não seria apenas um traço da natureza humana – seria uma obrigação social.

Fernando Rocha de Andrade.
Procurador da República e Mestre em Direito Internacional.

 

Comentários (7)

Flávio R Sousa 30 mar 2025

Triste, mas real. Falta de consciência individual,

Rildete 29 mar 2025

Quando professora, hj eu com 75 anos já dizia: a prova é ondividual e a vida tb.

Raquel Medeiros 29 mar 2025

Excelente texto que nos faz refletir exatamente sobre o que vivemos hoje. Essa necessidade de ser validado pelo outro, é que causa grande sofrimento. A essência do ser humano está se perdendo, a partir do momento que a preocupação gira em torno do que se aparenta ser ao invés do que se realmente é.

Maria Felicia 29 mar 2025

Perfeito! Muito atual!

Gleidson 29 mar 2025

Muito bom!

Felicia Carlos Felicia 29 mar 2025

Perfeito! O que vivemos hoje!

Maria de Fátima 29 mar 2025

Uma lamentável constatação! Sensacional!

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Themis do STF: A Deusa da Justiça ou Gladiadora? Por Aragão.

Themis, a deusa da Justiça, sempre foi representada segurando uma balança e uma espada. A balança simboliza o equilíbrio, a capacidade de pesar argumentos com isenção, distribuindo o direito conforme a medida de cada caso. A espada, por sua vez, representa a aplicação da lei—firme, necessária, mas controlada pela razão.

— Mas por que a Themis do STF não tem a balança? Somente a espada!

Se a Justiça que ali está representada nunca segurou a balança, será que, em sua outra mão, ela teria erguido uma lança? Uma arma de longo alcance, feita para atingir alvos distantes? Teria a Justiça ido longe demais?

A invasão ao Congresso e ao STF no dia 8 de janeiro foi um ataque grave às instituições democráticas. O Estado tem o dever de punir os responsáveis, porque, sem consequência, a democracia se enfraquece — Mas Justiça não é vingança. A condenação de 14 anos por uma pichação levanta um questionamento inevitável: estamos diante de uma aplicação justa da lei ou de um exemplo extremo para intimidar?

Se pichar uma estátua resulta em uma sentença comparável à de crimes hediondos, o que deveria acontecer com quem rouba bilhões dos cofres públicos? A Justiça não pode ser medida pelo impacto simbólico de uma decisão, mas pelo equilíbrio entre o ato e sua consequência. Quando esse equilíbrio se rompe, a toga se confunde com armadura, e o tribunal pode se converter, de fato, em uma arena.

— Tirou a venda e revelou uma visão míope?

A venda que cobria seus olhos nunca foi um sinal de cegueira, mas de imparcialidade. Ela não deveria enxergar rostos ou circunstâncias políticas — deveria apenas pesar atos e consequências. Mas a Themis que se apresenta hoje parece enxergar com nitidez apenas quem está perto e com distorções quem está mais distante.

Confiamos na Justiça, não porque seja perfeita, mas porque acreditamos que ela pode e deve se corrigir. A grandeza da Justiça não está na infalibilidade, mas na capacidade de reconhecer excessos e retomar o equilíbrio. Que Themis, mesmo sem ser infalível, reencontre sua balança, reajuste sua venda e prove que ainda é merecedora da nossa confiança.

— Porque quando a Justiça erra, ela não condena apenas um réu — ela condena a si mesma.

Comentários (10)

Orlando 28 mar 2025

O STF têm partido político,uma suprema corte era pra ser composta por juízes de carreira aprovado em concurso público,advogados de meia pataca indicado por políticos num país onde a corrupção não têm limites,tá tudo errado.

Edmilsonms61@gmail.com 27 mar 2025

O STF estar desacreditado uma vergonha para nosso país, antes do julgamento já sabemos as decisões e sentenças.

de Fátima veras 25 mar 2025

Genial..perfeito...sensacional!

Joan 25 mar 2025

A arma mais perigosa do Brasil é um batom que dá 14 anos de prisão.

Albanisa 25 mar 2025

Na verdade, os cargos do STF e do STJ teriam que ser ocupados através de concursos públicos como as demais instituições públicas E não por indicação presidencial. Porque assim sendo por indicação política vamos continuar com a (in)justiça onde só se mudam as moscas para o mesmo lixo.

HENRIQUE DE CARVALHO 25 mar 2025

Qual justiça? Parcialidade escancarada, desrespeito ao devido processo legal e à individualização da conduta, anomalia na identificação do crime e por aí vai. O país de joelhos e coagido pelo alexandrismo.

Fernanda 25 mar 2025

Excelente artigo. Você sabe como prender um leitor. Parabéns

Carlos 25 mar 2025

👏👏👏👏👏

Marília 25 mar 2025

Explicou com clareza o que está acontecendo.

Milton Azevedo 24 mar 2025

Sintetizou o pensamento de todos. Excelente

Carlos 25 mar 2025

👏👏👏👏👏

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Cadu não será candidato ao governo. Veja por quê. Por Aragão

Cadu tem prestígio. Como secretário de Tributação, foi peça-chave na gestão financeira do estado e conquistou a confiança da governadora. Sua projeção recente não é à toa: há um esforço para fortalecê-lo politicamente. Mas isso não significa que ele será o candidato ao governo. — Como assim?

Fátima Bezerra termina seu mandato com alta rejeição, e a promessa não cumprida de apoiar Walter Alves para sua sucessão gerou ruídos dentro da base. Além disso, o PT tem um histórico claro: para disputar cargos majoritários, tradicionalmente lança políticos com trajetória dentro da sigla, os chamados “petistas raiz”.

Sem um nome natural para a disputa, lançar Cadu como candidato ao governo poderia ser uma jogada para testar sua aceitação — Mas não é. Embora tenha baixa rejeição, boa circulação na imprensa e uma articulação eficiente, ainda assim, não teria chances contra a direita, que se fortalece, em parte, devido à política econômica sofrível do governo Lula e à atual gestão da governadora.

Então, por que o partido simplesmente não lança agora um nome tradicional? Porque isso abriria caminho para um bombardeio precoce. Se um petista de carreira fosse apontado hoje como sucessor de Fátima, a oposição teria tempo de sobra para desgastá-lo até as eleições, explorando a rejeição do governo com narrativas difíceis de reverter. Jogar Cadu no centro do debate pode ser uma forma de desviar a atenção enquanto os verdadeiros candidatos são trabalhados nos bastidores.

Lançar Cadu como “candidato” tira a pressão da esquerda por um nome e entrega à mídia alguém com baixa rejeição. A imprensa não o criticará intensamente porque se sabe que ele não teria chances reais. Mas o desdobramento disso é interessante: com essa grande exposição gratuita e sendo apresentado à esquerda pelos caciques do PT, Cadu se tornará um nome forte numa disputa para deputado estadual ou, quem sabe, federal. — Eis o verdadeiro objetivo dessa exposição planejada.

Se o PT lançar agora seu candidato real ao governo, como, por exemplo, Natália Bonavides, a mídia começaria a miná-lo desde já. E é justamente esse desgaste que o PT quer adiar ao máximo.

— Se este artigo de opinião é obra de ficção ou realidade, só o tempo dirá.

Foto: José Aldenir

Comentários (4)

Maria de Fátima 06 mar 2025

Constatação mais q lógica,perfeito!!

Marcelo Rochester 06 mar 2025

Análise perfeita. 👏👏👏👏

06 mar 2025

👏👏👏👏👏

Flávia R Sousa 06 mar 2025

Bom exercício de reflexão, bem colocado.

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Carnaval — Somos 210 milhões de músicos do Titanic. Por Aragão.

Quem esquece a cena impressionante do Titanic, em que, com o naufrágio em curso e em meio ao caos, os oito músicos entraram para a história ao simplesmente ignorar a realidade dramática que enfrentavam e continuar tocando?

Por aqui, navegamos em nosso Titanic verde e amarelo chamado Brasil. Somos 210 milhões de brasileiros que decidem sambar e tocar como se não houvesse amanhã. A economia naufragada, os preços pela hora da morte, o caos nos índices sociais e famílias se afogando em dívidas… e onde estamos? Na semana do Carnaval — pulando de alegria.

Seria isso alienação? Uma fuga necessária? Uma aceitação resignada do destino? Poderíamos questionar se não deveríamos, ao menos por um instante, largar os instrumentos e tentar nadar. Mas o brasileiro, de alguma forma, sempre encontra motivos para sorrir. Enquanto outros povos se afundam em desespero diante das adversidades, aqui a dor se converte em piada, a tragédia vira marchinha e a crítica social se disfarça em bloco de rua.

Dizem que a esperança é a última que morre. Mas, no Brasil, ela é enterrada pelos escárnios dos governantes e velada pela alegria do povo. Porque, se há algo que nunca morre por aqui, é a alegria. Essa, sim, é imortal.

Que povo extraordinário, capaz de transformar qualquer naufrágio em festa, qualquer tristeza em samba. Se faz tanto por uma alegria passageira, imagine o que poderia conquistar quando decidir lutar por uma alegria que dure para sempre.

Fotos: Divulgação/Internet

Comentários (6)

Jean 02 mar 2025

Você vive no mundo paralelo do BOZOLOEDISMO? Dê um Google para de se informar por banner de zap. 2 anos crescemos quase 7% mais que a média do mundo .

Jean Oliveira 02 mar 2025

Vocês estão falando do mundo invertido de Stranger Things? Emprego e Renda: • A taxa de desemprego atingiu 6,1% no final de 2024, a menor desde 2012, com 103,9 milhões de pessoas ocupadas, estabelecendo um novo recorde. Além disso, foram criados 3,7 milhões de empregos com carteira assinada desde janeiro de 2023. • O salário mínimo foi reajustado de R$ 1.320 para R$ 1.412 em janeiro de 2024, seguindo a política de valorização adotada pelo governo. Crescimento Econômico: • O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,9% em 2023 e 3,8% em 2024, impulsionado pela agropecuária, serviços e investimentos públicos. Combate à Pobreza: • Em 2023, a pobreza caiu de 31,6% para 27,4%, enquanto a extrema pobreza atingiu 4,4%, o menor índice desde 2012.  • Programas sociais, como o Bolsa Família, foram reforçados, beneficiando milhões de famílias e contribuindo para a redução da desigualdade social. Investimentos e Infraestrutura: • O governo lançou o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em agosto de 2023, prevendo investimentos de R$ 1,68 trilhão em áreas como saúde, educação, habitação e transporte até 2026.

Fabio 02 mar 2025

Excelente

Suely 02 mar 2025

👏👏👏👏👏

Flávio R Sousa 02 mar 2025

Triste (alegre para alguns) realidade

HENRIQUE DE CARVALHO 02 mar 2025

210 milhões - 1..... Alienação combinada com analfabetismo... Essa coisa de ser um povo alegre sob quaisquer circunstâncias é um eufemismo nocivo. Os ditadores conhecem e usam essas "característica" do brasileiro para, então, dar-lhe mais circo e ter o controle... Circo financiado por impostos, a propósito. O horizonte é sombrio e o naufrágio já começou há tempos.

Jean 02 mar 2025

Você vive no mundo paralelo do BOZOLOEDISMO? Dê um Google para de se informar por banner de zap. 2 anos crescemos quase 7% mais que a média do mundo .

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Enem. E só tem medicina?

O Brasil vive um paradoxo. Enquanto o mercado de trabalho em diversas áreas sofre com a falta de profissionais qualificados, os melhores talentos acadêmicos continuam a se concentrar em um único campo: a medicina. Não se trata apenas de vocação, mas de uma escolha racional baseada em um cenário econômico desolador. Em um país marcado pela estagnação econômica, altos índices de desemprego e a precarização de diversas profissões, a medicina surge como uma das poucas áreas que ainda oferece segurança financeira e prestígio social. Mas que tipo de sociedade estamos construindo ao canalizar quase todos os esforços para uma única profissão?

A engenharia é um exemplo claro de como o Brasil tem desperdiçado talentos. Dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o Brasil tem um déficit de 75 mil engenheiros. Se investíssemos mais na indústria, entre tantas outras áreas, absorveríamos mais talentos. Afinal, uma indústria forte demanda mão de obra especializada, desde técnicos até engenheiros, cientistas e gestores.

— Brasil: Um país doente

O impacto dessa concentração de talentos na medicina vai além do mercado de trabalho. Ele afeta diretamente o desenvolvimento social e econômico do país. Quem vai desenvolver novas tecnologias? Quem vai educar as próximas gerações? Quem vai projetar as infraestruturas que sustentam uma nação?

Enquanto os melhores cérebros são direcionados para a medicina, a sociedade sofre com a ausência de talentos em áreas fundamentais. Isso cria um círculo vicioso: o Brasil continua dependente da importação de tecnologia e de soluções externas, enquanto suas próprias capacidades internas permanecem subutilizadas.

É evidente que o Brasil precisa de mais médicos, mas também é urgente que o país invista em engenheiros, professores, cientistas e tantos outros profissionais que sustentam o progresso de uma sociedade. A concentração de talentos em uma única área é o reflexo de um governo que não oferece alternativas e de uma economia que não inspira confiança.

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ARTIGO: CPI da Violência no RN, por Marcus Aragão

POSTADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO BG EM 08/10/21.

Existem as cidades violentas; as extremamente perigosas; as zonas de guerra; e Natal. Poliana lendo este texto deve achar exagero. Vamos ao tiroteio dos fatos.

Entre as 38 mil cidades do mundo, Natal é a 4ª cidade mais perigosa do planeta Terra e a mais violenta do Brasil, segundo o Word Population Review 2020.

— Se ficou duvidando, digite no google: World’s most dangerous cities.

O pior é que os quatro primeiros colocados estão próximos, enquanto que o quinto está mais distante. Isso quer dizer que podemos subir nesse ranking em breve.

  • 1o) Los Cabos, México (111,3 mortes por 100mil habitantes)
  • 2o) Caracas, Venezuela (111,2)
  • 3o) Acapulco, México (107)
  • 4o) Natal, Brazil (102,7)
  • 5o) Tijuana, México (84)

Para você ter uma ideia, a taxa de homicídios em Nova York é de 3,4 para cada 100 mil habitantes. Pronto. Agora você não precisa mais viajar para locais como o Rio de Janeiro e ficar com medinho de ser assaltado. Não precisa esconder relógio, celular e olhar para os lados. Pare com isso! Você é selva! É mais fácil terem medo de você, quando souberem que é de Natal.

— Deveríamos ter a CPI da violência?

Duvido muito. Apesar desses números, acredite, nosso efetivo da Policia Civil ainda está com déficit de quase 76% e a responsabilidade dessa falta de policiais é do Governo. Hoje, na Policia Civil, existem 980 agentes, 178 escrivães e 150 delegados. Totalizando 1.308 policiais para garantir a segurança de todo RN. Você talvez não saiba, mas deveríamos ter 5.150. O concurso que está em andamento oferece 350 vagas que não servirão nem para repor as aposentadorias.

E na PM? Hoje, dos 13.466 cargos da Polícia Militar somente 8.000 estão preenchidos, mostrando um déficit de 40%. Meu perplexo leitor, está entendendo porque não tem como reduzir os crimes se nem o básico nós temos? Claro que somente o acréscimo do efetivo não resolve. O problema é muito enraizado, amplo e complexo. É preciso investimentos em Educação, Políticas Públicas e muito mais. No entanto, sem polícia é impossível. Não vou falar do aparelhamento das polícias. Vou deixar com sua imaginação.

— É a economia, estúpido!

A frase cunhada por James Carville, estrategista político de Bill Clinton, durante a campanha de 1992 contra George H. W. Bush, deveria ser repetida para nossos políticos. Seja em NY, Rio de Janeiro ou Natal, a violência sempre é consequência da economia. Não é fácil morar em Natal, RN, Brasil. Não é só nossas vidas e pertences que perdemos com a criminalidade. A inflação tem roubado nosso poder de compra; a corrupção nos rouba a esperança; e as fake news nos roubam a verdade.

— É a eleição, idiota!

A situação deve piorar.

Uma educação que não ensina e está disponível para bem poucos devido a pandemia, trará resultados ainda mais desesperadores para a economia e, por conseguinte, aumentará a criminalidade.

Infelizmente, é mais fácil manipular as pessoas sem instrução. Outra coisa, Natal é cercada de favelas por todos os lados. Uma rota de fuga sempre próxima para bandidos. Desapropriar e remanejar parque local melhor? Nem pensar! No outro dia, apareceriam políticos caça-votos defendendo que a favela fique onde está. O politicamente correto também nos rouba soluções.

Não deve estar longe o dia em que as agências de turismo oferecerão opções de safari urbano, no qual os turistas testemunhariam nossa violência batendo selfies — protegidos dentro de carros blindados.

A situação não está assim por sua causa, assustado leitor. Mas depende de você ela continuar assim. Não é só nas urnas que você deve fazer sua parte, mas também nas redes sociais. Você já postou foto do seu chopp, do seu cachorro, do treino pago na academia, da sua roupa nova no elevador e do prato de macarrão. Agora chegou a hora de você pedir a CPI da Violência no RN. Temos que saber o porquê, entre 38 mil cidades no mundo, somos a 4a mais violenta. Por que o déficit enorme nas policias? Por que as audiência de custodia liberam tantos marginais? São tantos os porquês.

Por que você não faz alguma coisa?

Marcus Aragão
@aragao01

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Artigo: Governo do RN nas Olimpíadas. Por Marcus Aragão

POSTADO ORIGINALMENTE NA TRIBUNA DO NORTE EM 28/07/24.

Marcus Aragão
@aragao01

Nosso governo continua batendo recordes olímpicos no revezamento com barreiras para a engorda. Começou com o IDEMA, depois a Procuradoria, seguindo com o MPF e termina com Natália Bonavides criticando a obra. Também está impressionando no salto à distância das decisões judiciais — lembremos da decisão judicial para desocupar o prédio do Diário de Natal e para liberar a licença para a engorda. Outro merecido destaque é na luta livre, com uma imobilização impressionante da obra na Ponte de Igapó.

Por outro lado, está bem longe de vencer os grandes desafios como o combate à fome, o desemprego, a violência e a melhoria no sistema de saúde. O despreparo é evidente, pois não conseguimos fazer o tempo mínimo. Uma engorda da praia de Ponta Negra é algo que deveria ser decidido em uma reunião de 20 minutos após analisar os fatos e a viabilidade — fique sabendo que somos o estado lanterninha.

Veja os estados que chegaram na frente e já realizaram engorda: Santa Catarina com Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Jurerê, Canavieiras e Praia dos Ingleses; Rio de Janeiro com Copacabana; Ceará com Praia de Iracema; e Pernambuco com a Praia Central de Jaboatão dos Guararapes.

— O Governo do RN ganha destaque também no nado contra a maré.

No jogo político, percebendo a relutância do governo em entrar em campo para liberar a obra, é inevitável chegarmos à conclusão de que, quando as melhorias na cidade não são sugeridas pelo time dos aliados, é bola para fora na certa. Além disso, precisam passar também por uma maratona para serem aprovadas — mas, por outro lado, a lamentável situação em que se encontra o RN pode caminhar livre como numa marcha atlética sob a torcida dos órgãos de controle.

Quando houver a coletiva de imprensa, como ocorre em toda olimpíada, gostaria de fazer algumas perguntas à dupla do nado sincronizado, Governo e Ministério Público, que tanto questionam os impactos da engorda, sobre os outros impactos que saíram da coreografia da dupla.

Qual o impacto da criminalidade na economia e na qualidade de vida do potiguar?

Qual o impacto da educação de péssima qualidade na infância das nossas crianças e nas próximas gerações?

Qual o impacto das estradas esburacadas para o turismo e para o desenvolvimento dos municípios?

Qual o impacto do sistema de saúde que não atende às demandas mínimas da população?

Vão ter que suar a camisa para responder.

Somos brasileiros e não desistimos nunca. Vamos continuar torcendo pelo nosso RN, pois fica a certeza de que ganharemos ao menos uma medalha de ouro na ginástica que fazemos para sobreviver.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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ARTIGO: Morro do Careca. O RN está com uma doença autoimune? Por Marcus Aragão

POSTADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO BG EM 07/07/24.

Tremores na democracia com a invasão do prédio do Diário de Natal, estradas com erupções, empresas falecendo, calafrios na educação e a violência fazendo o nosso estado sangrar. Esses são apenas alguns sintomas enfrentados pelo nosso Estado de sofrimento.

Agora, vemos o Morro do Careca se esvaindo e continua sem atendimento. Como se esperasse numa urgência e não pudesse ser atendido. É preciso uma licença para ser atendido.

— Não adianta o Estado nadar, nadar e o Morro do Careca morrer na praia.

Vamos explicar o que é uma doença autoimune — é quando o sistema que deveria proteger nosso organismo, ataca erroneamente as próprias células e tecidos do corpo. Seria isso que está acontecendo em nosso estado? Autoridades que deveriam proteger nossa terra, trabalham justamente contra?

— IDEMA, dá licença? Queremos salvar o Morro do Careca!

Talvez seja realmente por conveniência política que o governo parece não cooperar. Não é por maldade. Mas por uma percepção errada do que faz bem para nossa gente. Creio que nossas autoridades pensam que estão fazendo o correto, o certo, o melhor para nosso Estado de arrependimento — não incentivar o empreendedorismo e estimular o assistencialismo, é um bom exemplo.

Voltando ao Morro, ou melhor, à Falésia do Careca, é mais que um símbolo, mais que uma analogia, está se transformando no verdadeiro raio-x da nossa terra. Olhemos para o Morro do Careca e lá está um resumo do nosso Estado de calamidade.

Deixar de construir um Estado de desenvolvimento é uma coisa. Assistir à deterioração de um presente dado por Deus, esculpido pela natureza, é outra bem diferente. A prefeitura já tem os recursos para executar a obra de engorda que resolveria o problema, mas falta a licença do IDEMA. A draga já está ancorada em nosso porto, mas falta o governo liberar a licença.

Já ouviu falar no Cristo Redentor caindo aos pedaços? Ou no Pão de Açúcar? Ou no Elevador Lacerda em Salvador? Não, você nunca vai ver nem ouvir isso. Os governos, por piores que sejam, preservam seus símbolos.

Será que já estamos vivendo num Estado de decomposição?

Marcus Aragão
@aragao01

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ARTIGO: Nossas praias, a Via Costeira e o bunda-lê-lê. Por Marcus Aragão

POSTADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO BG EM 07/07/23.

Nossas praias estão impróprias para o banho, impróprias para o turismo, impróprias para os natalenses.

Durante muito tempo fomos conhecidos em todo o Brasil pelas belezas das nossas praias. A questão é que até o morro está careca de saber que isso está mudando. Se antes os turistas se sentiam atraídos pelas nossas praias, hoje eles se sentem traídos.

— Até tu, Ponta Negra?

Se em Recife precisamos ter cuidado com os tubarões, aqui em Natal a atenção é com ratos, baratas e bocas de lobo. Quem começa a andar pela nossa orla tem que ter cuidado onde pisa. A eterna falta de uma urbanização racional infestou nossas praias com barracas e ambulantes que, pela falta de higiene, atraem ratos e outras pragas, tornando-se alvo involuntário de pisadas distraídas. Fique atento. Banheiros imundos, assaltos frequentes e lixo nas calçadas compõem esse cenário de purgatório — e o inferno é logo ali.

Segundo o presidente da ABIH, o risco do turista ser assaltado é de 90%. A falta de policiamento ostensivo e o domínio da cidade pelas facções estão tornando a vida na cidade do sol um inferno de Dante. Os 10% que não foram assaltados pelos bandidos não resistirão aos preços extorsivos cobrados pelas barracas. Sem falar na prostituição que compõe o cardápio alternativo da orla.

— A boca de lobo é o ânus da cidade.

Um cano enorme que defeca literalmente toneladas de fezes em nossas praias ao ar livre, sem nenhum pudor, para todos assistirem incrédulos esse espetáculo bizarro. Quantas bactérias essa imundície não traz em seu córrego? Se a “boca de lobo” é o ânus, nossa orla é um imenso rego? A “língua preta” é a diarréia da cidade. Quantas crianças, idosos, pais de família e ainda a vida marinha são infectados através dessa imundície? E o pior, temos várias “bocas de lobo” em nossas praias. Se o turista europeu já fica constrangido quando percebe um cachorro fazendo o que o gato enterra em via pública, imaginemos o que não pensa quando se depara com todo o potencial de uma “boca de lobo”. É a cidade fazendo bunda-lê-lê para o turismo.

Se o turista escapou dos perigos do calçadão, conseguiu não ser fisgado pelos preços das barracas, desviou as bocas de lobo na areia e resolve dar um mergulho, percebe que está bem no meio do bojo dos problemas. Os relatórios de balneabilidade constantemente apontam a presença de coliformes fecais, ou agora chamados de “termotolerantes”s, em uma presença bem elevada, tornando impróprio entrar na água. Teríamos que substituir o Morro do Careca por uma pastilha sanitária gigante?

A situação do turista é realmente preocupante. Porém, a diferença é que seus problemas se acabam quando ele vai embora. Certamente, a melhor parte da viagem, ou pelo menos a mais segura, é o retorno para casa. Ele está livre. Não precisa dar ouvidos ao canto da sereia dos políticos locais que prometem e nunca resolveram essa questão.

Se para o turista não está fácil, imagine para nós, natalenses, que não temos para onde escapar? O turista, que tem menos, tem mais do que a gente. Aliás, ele ainda tem um direito extra que nos é negado — usufruir da Via Costeira. Podemos passear de carro e de bicicleta, liberam para correr e andar, mas não podemos ficar nem estacionar. Nascemos aqui, mas não é permitido usar a praia que Deus nos deu. A maior faixa litorânea da cidade — é só para as visitas.

Fazendo uma comparação da Via Costeira com uma casa, é como se não nos deixassem jantar na sala. Só podemos fazer as refeições na cozinha — só que somos os donos da casa.

A Via Costeira é admirada por todos, mas usufruída por bem poucos. O pernambucano pode desfrutar tranquilamente, basta se hospedar nos hotéis. O baiano da mesma forma. O capixaba, idem. O gaúcho e o alagoano, também. Enfim, só quem não pode somos nós — os nativos. Afinal, não vamos nos hospedar nos hotéis em nossa própria cidade. Queremos morar com vista para o mar, entendeu? Por que não?

Meu leitor ecochato, não fique verde de raiva, pois não defendo acabar com o meio ambiente. É possível conciliar e planejar com sabedoria. Maceió errou? João Pessoa errou? Claro que não. Ah, quer dizer que temos leis arcaicas? Vamos fazer novas leis para um novo tempo.

Já foi um grande passo a implantação do novo plano diretor que melhorou a situação das edificações em diversos pontos de nossa cidade e na Via Costeira. Excelente, mas, por enquanto, ainda está no papel — é preciso que comecemos a construir. A população não pode esperar ainda mais. Quase 40 anos não foram suficientes?

Fiz o artigo em 2020: “Por que a Via Costeira não é sua?”. Foi realmente um recorde de acessos e compartilhamentos. Fiquei feliz com a repercussão, mas nada comparável à alegria que terei em escrever o artigo comemorando a entrega da Via Costeira ao povo de Natal.

Para não me alongar muito, já vou terminando esse giro pelas praias, passando pelo Forte e indo para a Ribeira. Tenho acompanhado com otimismo as iniciativas da prefeitura para resgatar esse importante bairro. Vamos ver se é para inglês ver ou se é para nossa gente viver. Espero que sim. Quem sabe essa onda de mudança começa pela Ribeira e vai desaguar no mar — trazendo de volta nossas praias! Quando esse dia chegar, bastará um mergulho para lavar a alma de todos nós.
 

Marcus Aragão
Instagram @aragao01

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ARTIGO: Padre Júlio — o pecador. Por Marcus Aragão

POSTADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO BG EM 05/06/22.

Naquele tempo a Igreja Católica adotou o celibato dos padres e freiras para defender seu patrimônio. Não casava bem o sacerdócio com herdeiros brigando pelo patrimônio do padre. Isto é, o patrimônio da Igreja — era a Idade Média. Foi aí que começou, Deus me perdoe, o inferno dos padres.

Durante o papado de Gregório VII, em 1075, o clero foi obrigado ao celibato. Vejam que foi mais de 1000 anos depois de Cristo. Essa ideia não partiu de Jesus. Hoje em dia, continua na mesma ladainha, apesar de que muito se superou dos absurdos da Idade Média. Um bom exemplo foi o fim da venda de indulgências, ou o perdão divino a quem pagasse por isso. Graças a Deus, acabou. As missas em latim, também. Mas o celibato continua.

A manutenção de algo tão fora de contexto pode trazer, e tem trazido inúmeros problemas. Pedofilia, relações clandestinas com homens ou mulheres e muita repressão para não aceitar a maçã da eva. Ou de Adão.

— Se você ainda vai continuar a leitura deste artigo, reze 10 ave-marias e 10 pai-nossos.

Essa semana tivemos a vida do Pe. Júlio devassada nas redes sociais e antissociais. Pegaram o Júlio para Cristo. Mas o Júlio é humano e, como tal, erra. E é lógico que errou. Afinal, o adultério é um dos pecados mortais, porém, cabível de perdão se o arrependimento é genuíno. Vejam agora a ironia do destino. Particularmente, não conheço o Pe. Júlio, mas sei que todo padre atende fiéis que querem se confessar. Todos nós precisamos de uma segunda chance. Nos confessar, receber a penitência e voltar a vida com esperança de sermos pessoas melhores. Quem vai perdoar os pecados do Pe. Júlio se a arquidiocese e a sociedade já condenaram à fogueira?

— Senhor, tende piedade de nós.

A igreja não evoluiu quando Papa Francisco, em 2018, disse que padres gays devem largar o sacerdócio. O médico gay salva sua vida; o engenheiro gay constrói sua casa; o professor gay ensina sua profissão, mas o padre não pode ser homossexual nem hétero. Não pode ser nada. Deve ser um inferno mesmo.

— Vamos rezar a oração que o Senhor nos ensinou.

Viu? Perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido. As partes envolvidas devem pensar em perdoar. É nosso dever e nossa salvação! Por isso, peço aos mais exaltados que guardem a tocha acessa, pois não vamos ter caça às bruxas. O nosso coração está em Deus.

— O amor de Cristo nos uniu.

Agora, tentando amar o próximo como a si mesmo, pergunto-me quem pode perdoar o Pe. Júlio por ter caído em tantas tentações? Antes, gostaria que o padre perdoasse a Igreja por insistir no celibato e em pensamentos vigentes da Idade Média e que perdoasse também a todos nós que expomos sua vida nas mídias.

— Aquele que não tem pecado que atire a primeira pedra.

Após esse momento de fraternidade em que perdoaremos uns aos outros, rogo a Deus que tenha compaixão de nós, perdoe nossos pecados e nos conduza a vida eterna. Amém.

— Vamos em paz e que o senhor nos acompanhe.

Marcus Aragão
Instagram @aragao01

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